E ela
estava lá e seus sons, mas parecia uma música. Acordar todas as manhãs
com cheiro de café feito na hora pela minha mãe, a sinfonia dos pardais,
pisar descalça na grama molhada pelo orvalho da noite e o vento forte
roçando nossos rostos. Era assim que começava o meu dia, um pouco frio,
pois não tínhamos agasalhos suficientes, mas mesmo assim éramos felizes. Felizes
também foram às pessoas que passaram nesses 100 anos que vamos
completar de paraíso na Vila da Light. Quantos nasceram, cresceram,
casaram, tiveram filhos e alguns morreram (faz parte da vida). As festas
cívicas, aniversários, casamentos e batizados era onde todos se reuniam
para confraternizar. Não se esquecendo do passeio de trole, bailinhos
aos sábados com os discos do nosso querido Zé Dudu (que era muito
avançado para nossa época), o nosso DJ Cocada que sempre repetia a
música quando o cavaleiro fazia um sinal sutil para ele, isto
significava que a companheira de dança estava boa e o cinema as quintas
feiras nosso outro ponto de encontro. Respirar o ar puro do verde que
nos rodeava, contemplar aquele céu azul e as noites com as estrelas
parecendo luzes soltas no ar (numa dessas noites eu vi uma estrela
cadente) era um encontro nosso com Deus. Agora quero falar do nosso mais
precioso bem: As nossas lindas cachoeiras, quantas pessoas nestes 100
anos passaram por lá. Muitas para bater papo, outras para trocar juras
de amor, pois lá era um local para os apaixonados. Nossa cachoeira com
sua queda de 40 metros continuam dando espetáculo mesmo que não tenha
ninguém para aplaudir. Suas águas cristalinas continuam jorrando ladeira
abaixo purificando os olhos de quem a acompanha. Tenho certeza que
nossos antepassados desfrutaram de toda essa beleza, porque elas estão
lá há milhões de anos. Esta é uma singela homenagem de quem teve o
privilégio de viver por 22 anos neste paraíso chamado Itupararanga.
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