terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Fogão de Lenha


Na vila da Light todas as casas tinham um fogão de lenha com exceção da chefia que era elétrico.



Três vezes por semana passava o Sr. João Monteiro que trabalhava na serraria no alto do morro deixando para cada casa, do balanço. três feixes de lenha cortada com 70 centímetros de comprimento. Cada feixe era envolto por um aro de ferro o qual pegávamos para brincar de rodar arquinhos e nunca estava no lugar quando ele voltava para recolher.


Muitas vezes essa lenha estava verde o que causava muita fumaça e não atendia as necessidades. Então mamãe achou melhor começar a buscar lenha no mato, eu ia com ela e sempre resmungando, pois era preciso fazer uma boa caminhada.


Descia até o acampamento, passava na casa da Dona Cida uma grande amiga dela e seguíamos para o mato pra lá do rio, atravessávamos a ponte e seguíamos em frente mais um quilometro.


A lenha chamava-se vassoura, era uma espécie que tinha muito então as duas pegavam as suas foices e começavam a derrubar as árvores, enquanto as madeiras iam para o chão eu observava o suor que escorria de seus rostos tão bonitos e muito jovens. Apos 15 dias que elas voltavam para recolher, pois já estavam bem secas.


Na volta parávamos um pouco na casa da Dona Cida e logo em seguida subíamos para a casa, pois mamãe tinha que preparar o almoço já que nosso pai só gostava das refeições preparadas por ela.


Quando íamos apanhar as lenhas, mamãe fazia um feixe bem grande para ela e um pequeno para mim, o qual no meio do caminho desistia e ela acabava levando os dois.


Ela fazia um pano torcido para por na cabeça que se chamava ródia (rodilha nome espanhol) que servia como um protetor para carregar pesos sobre a cabeça e depois de colocado só baixava quando chegava em casa, às vezes ate parecia um pouco exibição com tanta habilidade.


Hoje eu entendo que ela me levava com ela era para lhe fazer companhia, naquela época às mulheres casadas só podiam sair acompanhadas, mesmo que fossem só pelas redondezas.


Certo dia meu pai apareceu com um fogão a gás com três bocas que o Senhor Belmiro tinha comprado para a casa dele, mas a esposa não gostou.




Tudo bem, foi desocupado o lugar entre a mesa e a pia onde foi colocado o tal fogão, mamãe colocou uma toalha de crochê em cima com uma fruteira e assim permaneceu lá sem ter nenhuma função. Só bem tarde quando mudamos de casa é que começamos a usá-lo, na verdade ela adorava logo de manhã acender o seu fogão e ver aquela lenha bem sequinha formando as labaredas vermelhas aquecendo o seu caldeirão de feijão e os estalos da lenha queimando, que mais pareciam estrelas subindo para o céu e para nos crianças era muito bonito de ver.


Mas para assar frangos, pães, bolos e outros eram feito no forno de tijolos que tínhamos no quintal.


Escrevendo essas linhas que eu vejo o quanto minha mãe era uma mulher forte e corajosa. Nunca deixou de ser bondosa e carinhosa com todos que estavam a sua volta, foi realmente uma lição de vida!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mais de 8 mil acessos


Muito obrigada a todos pelos mais de 8 mil acessos
Abraços
Natalina

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

As Férias dos Castro

As férias do meu pai sempre começavam no dia primeiro de maio. Mas, por ser o dia do trabalhador e nossa Vila ter a maior festança (começava com o tradicional churrasco e terminava com o grande baile que para os jovens era o ápice da festa) ele deixava para o dia seguinte, quando colocava as bagagens no seu automóvel e saía para suas merecidas férias, já que sua profissão de ferreiro exigia muito durante todo o ano.



Lembro-me como hoje, que as férias eram divididas em duas partes: A primeira era a ida para o sitio do Tio Pedro na cidade de Elias Fausto-SP (próximo a Campinas) e apesar de não avisarmos nossa chegada, pois naquela época ainda não existia telefone por lá, éramos muito bem recebidos.


Até posso imaginar o que eles pensavam vendo aquele carrão cheio de crianças descendo para ficar uma semana. Não faz muito tempo e um dos meus primos esteve nos visitando e comentou que eles pensavam que éramos ricos e sentiam até um pouco de inveja quando meu pai parava aquele carro enorme, na verdade eles raramente viam por lá.


Comentou também que vida na roça era muito dura e que até as crianças começavam muito cedo na labuta para ajudarem a família que era grande. Hoje Graças a Deus e muita perseverança estão todos bem.

O que eu mais adorava era a hora de levar o almoço para o pessoal na roça, foi lá que conheci plantações de berinjela, tomates, pimentão e moranguinho, que forma trazidas pela cultura japonesa.


Enfim, depois de atrapalhar um pouco a rotina dos parentes voltávamos para a nossa casa.Viajar era bom, mas voltar para o nosso vale encantado era muito melhor, era como se vivêssemos em férias sempre.

Meus pais seguiam para a segunda etapa da viagem, rumo à cidade de Aparecida do Norte-SP e agora eram só os dois!

Mamãe arrumava os cabelos e colocava sua melhor roupa; meu pai preparava seu terno de casimira, sapatos de couro mandado fazer sob medidas, chapéu da fábrica Ramenzoni três X e seguiam para Aparecida onde os católicos costumam ir até hoje para agradecer as graças recebidas durante todo o ano.


Ficavam num hotel bem próximo a Catedral e assim podiam acompanhar todos os eventos religiosos: missas, novenas e a benção das três da tarde que mamãe acompanhava o ano inteiro pela rádio Aparecida.


Enquanto aguardávamos o recado deles pela rádio em casa na vila a minha irmã mais velha Nair já estava surtando de tanto apartar brigas das crianças que eram uns “pestinhas”.


Às dez da manhã do dia seguinte nós ficávamos de ouvido colado no nosso rádio de válvula para ouvir as vozes dos nossos amados avisando que tinham feito uma ótima viagem.


Acreditem na época era muito chique isso, pois o rádio era um meio de comunicação muito importante.


Aguardávamos ansiosos pela volta deles, afinal traziam um monte de presentes, incluindo as medalhas de santos que em um passe de mágica sumiam todas (Já viu criança guardar direito as coisas... rsrsr).


O jeito era esperar as próximas férias onde tudo se repetia e posso afirmar o quanto era muito bom. Depois que eu cresci passei a levá-los para a tão famosa viagem a cidade de Aparecida, meu pai já com idade avançada gostava de almoçar nos melhores restaurantes e adquirir nas lojas de souvenirs canivetes para a sua coleção que foi desfeita após a sua partida.


Peço desculpas se hoje me alonguei um pouco mais, mas sempre me emociono com as doces lembranças que vivi.