sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Minissérie Nunca desista dos seus sonhos - Capítulos 47 - 48 - 49


Da Casa de Forças os chefes das diversas unidades da companhia seguiram em bloco, atrás de Mr. Smith e Pagan, pela rampa que conduz às belas casas da chefia. Uma vez lá e devidamente instalados ao redor de uma mesa enorme, retangular, de madeira de lei escura, postada numa varanda cercada por tela, era perceptível nas faces de Saydel, Salvestrini, Laércio Veiga, José de Castro e todos os demais líderes, expressões de ansiedade e satisfação. Mr. Smith estendeu mapas e diversas plantas de engenharia, esplendorosamente bem feitas pelos antigos engenheiros, sobre o tampo da mesa e não tardou para que um enorme bule de café passado na hora fosse trazido da cozinha com duas dúzias de xícaras: um dos homens da manutenção pensara nesse pequeno e importante detalhe! Xícaras foram imediatamente servidas, cigarros e cachimbos acesos e a reunião teve início. Mr. Smith, de imediato, quis saber de seu grupo de assessores se valia a pena uma restauração total das edificações existentes na Vila ou se era mais prático derrubarem tudo e começar dos alicerces. Alguns homens se manifestaram defendendo suas posições, outros, contra-argumentaram. Mr. Smith na cabeceira da mesa ponderava em silêncio a maior parte do tempo. De vez em quando perguntava algo, dava um ponto de vista, até que a certa altura resolveu: "Dinheiro não será problema! Não teremos falta de material de primeira qualidade para tudo o que precisarmos. Teremos também uma infraestrutura de transportes com caminhões entregando todo o material e ferramentas necessários. E tendo ouvido as ponderações dos senhores entendo que é chegado o momento de uma decisão. E ela é a seguinte: Nós, literalmente, passaremos a vila 'a limpo'! Derrubaremos as poucas paredes que ainda estão de pé e reconstruiremos tudo do zero! Vocês estão comigo nisto? Conseguirão motivar seus homens para termos tudo novinho em folha no prazo de um mês?". Após alguns segundos de silencio quando alguns olhares foram trocados por aqueles homens fortes, corajosos, experientes, alguém se levantou e respondeu pelo grupo: "Sim, Mr. Smith! Nossa gente já sofreu demais de saudade e já esperou demais por isto! Nós faremos tudo em um mês, sob a sua liderança se o senhor nos garantir os recursos... Trabalharemos noite e dia, mas, conseguiremos!". Havia lágrimas nos olhares da maioria daqueles homens quando mãos foram apertadas e eles começaram a se dirigir para fora daquela linda casa tranformada em central de operações e a caminhar em direção aos seus liderados que os aguardavam no campo...





E assim o milagre se fez! Felizes por participarem do milagre da reconstrução, homens das mais diferentes profissões, agrupados sob a liderança de seus antigos chefes e organizados em turnos, para que pudessem ter um período de descanso, passaram a trabalhar dia e noite em Itupararanga. Conforme prometera, Mr. Smith supria toda a infraestrutura para que o Vale Encantado, assim como fora na época da construção da Usina, 100 anos atrás, se transformasse num gigantesco canteiro de obras. Daí era, a todo instante, um entra e sai de caminhões trazendo pedras, tijolos, cimento, cal, canos, madeira, fios, portas, janelas, tintas, ferramentas, parafusos, pregos e levando embora do vale, raízes, tocos, capim, entulho e tudo aquilo que não serviria para que tudo ficasse idêntico ao projeto original imaginado pela empresa canadense São Paulo Electric Company Ltd. Antes mesmo dos caminhões, as plainadoras foram as primeiras a passar pelo portão e adentrarem na área refazendo, com suas imensas pás, as ruas da vila que estavam tomadas pelo mato e praticamente intransitáveis. Isso foi fundamental para que, na sequência, os referidos caminhões pudessem chegar em todos os cantos da vila nesse leva e trás de coisas. Para alimentar aquele batalhão de trabalhadores, foram levantadas duas imensas tendas-refeitórios. Uma ficava entre o Escritório e a Usina, outra, sobre o aterro, que fora recuperado e reconstruído pelas plainadoras e caminhões basculantes carregados com terra vermelha que não paravam de chegar. Portanto, havia muito espaço naquela nova “estrada” que começava logo após a Curva do Vento e seguia – sempre colada ao morro e nunca atravessando o rio, em direção à vila e chegava à altura do lago que todos conheciam como Largão. As tendas-refeitório eram imensas, com mesas enormes, iluminação adequada, equipadas com depósito para alimentos, freezers e fogões industriais. Para trabalhar nas tendas-refeitório foram trazidas todas as mulheres que trabalharam nas Pensões em diferentes gerações. As tendas ficavam abertas 24 horas por dia e foi o próprio Mr. Smith quem se responsabilizou pela escala de alimentação das turmas de trabalhadores para que tudo funcionasse como um relógio e seu “exército” de profissionais estivesse sempre bem alimentado e os homens dispostos ao trabalho. Com o prolongamento do aterro, muitas barracas foram erguidas e reagrupadas por ali também. Era lindo de se ver! Num sobrevôo sobre a Vila da Usina de Itupararanga nesses dias seria possível ver grupos de homens em seus uniformes em plena atividade ou se deslocando de um lado a outro, rumo aos refeitórios, voltando deles, indo descansar, ou seguindo para o seu turno de trabalho. Banheiros químicos foram providenciados em todos os lugares. Havia também uma área de chuveiros junto às tendas, mas, muitos preferiam, no melhor estilo “Aureliano Pedroso”, ir com sabonete e toalha até a Cachoeirinha e se banharem em suas águas abençoadas. Rolos de fumaça subindo aos céus, denunciavam intensa atividade humana na área. Felizmente era fumaça produzida pelo esforço de reconstrução e não do abate de árvores ou queimada das mesmas e da vegetação em redor. Durante a noite, unidades geradoras de energia sobre carrocerias de caminhões alimentavam holofotes imensos que faziam a noite parecer dia. E assim os dias foram passando e, uma a uma, as casas ressurgindo. Havia gente, recursos e disposição suficiente e todas as casas foram surgindo, de seus alicerces, tijolo após tijolo, ao mesmo tempo... Era algo lindo, emocionante. Parece que os homens competiam para ver quem conseguia terminar a casa antes. Mas, era uma competição que virou motivo de riso porque estava sempre empatada. E foi assim que em 29 dias, 19horas, 04 minutos e 55 segundos a última demão de tinta foi dada no último edifício a ser restaurado naquele vale que rescendia de novo, que renascera das cinzas...no prédio da Sede!


...Continua

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Minissérie Nunca desista dos seus sonhos - Capítulos 44 - 45 - 46


Não demorou muito para que uma base fosse arranjada. Era uma espécie de mesa trazida do interior da Casa de Força. Sem muita dificuldade Mr. Smith subiu nela e, uma vez lá em cima, estendeu a mão direita para ajudar o Pagan a subir. Agora todos os homens, até os que se encontravam lá atrás, na última fila, na altura da garagem, viam perfeitamente a silhueta dos dois homens sobre aquela plataforma improvisada. Eles estavam sem microfone mas Pagan tinha o megafone usado nos dias anteriores numa das mãos. Então, após alguns instantes, quando a agitação pelo surgimento dos dois homens estabeleceu-se entre aquele mar de funcionários, agora reinava o mais absoluto silêncio em toda a área quando Mr. Smith começou a falar... Ele postava-se meio de lado, como que conversando unicamente com seu intérprete e, este, com o megafone diante da boca, tornava as palavras que ouvia em inglês, compreensíveis aos seus iguais postados diante deles. Seus ouvidos captavam cada palavra que Pagan dizia, mas, todos os olhares permaneciam fixos naquele curioso estrangeiro...

                          Local onde Mr. Smith fez o discurso diante da multidão de funcionários...


O discurso: "Amigos, eu tenho certeza de que vocês todos estão todos preocupados com minhas últimas decisões, especialmente, pelo fato de eu ter ordenado que fizessem suas esposas e filhos retornar a seus lares nas cidades circunvizinhas... Eu não os culpo, acreditem: eu também estaria... Especialmente depois de termos passado estes últimos dias num clima tão gostoso, de reencontro, de restauração, de sentimento de reconstrução... É como se um lindo sonho de vocês todos estivesse sendo bruscamente interrompido... Mas, amigos, prestem muita atenção: não é nada disso...Na verdade é exatamente o oposto do que vocês estão pensando". E aqui, Mr. Smith fez pequena pausa, indicou a alguém próximo que estava precisando de um gole de água e, pode-se ver alguém lá na frente, junto a Mr. Smith e Pagan, sair apressado em direção ao interior da Usina. Sem esperar pela água, Mr. Smith aproximou uma das mãos meio fechadas da boca, pigarreou, pediu desculpas e continuou: "Rã..Rã, Desculpem... Vamos tentar continuar assim mesmo...". Excetuando-se o som do pigarro, o atento tradutor, Pagan, repetiu fielmente cada palavra de Mr. Smith ao megafone. Mr. Smith prosseguiu: "Pois bem, amigos, acalmem-se! Continuamos todos aqui, reunidos, com o mesmo propósito em nossas mentes e corações. E esse propósito agora está mais forte que nunca! Eu quero que saibam que, a princípio, eu tinha um cronograma. Um mapa, onde eu tinha detalhado todos os passos para, junto com vocês, usando o talento, o conhecimento e a habilidade de cada um, mestres que são em suas diferentes especialidades, recontruirmos tudo aqui em nosso Vale Encantado. Mas..." e antes que Mr. Smith continuasse, alguém se aproximou e elevou a ele um litro transparente, de boca larga, como os antigos litros de leite leite, cheio até a boca com água fresca da bica. Ele fez um sinal com a mão à multidão, como quem diz "Um momentinho". Serviu-se de uma bela talagada, deixando cair um pouco de água em seu peito. Em seguida ofereceu o mesmo litro ao Pagan, que não se fez de rogado. Colou os lábios no litro e bebeu, bebeu, bebeu... e bebeu! Mr. Smith fez uma careta e apontou para seu tradutor no alto daquela mesa, daquela plataforma improvisada sobre a qual ambos estavam e aquelas centenas de homens diante deles, já mais descontraídos com as primeiras palavras do discurso de Mr. Smith e com a sede do Pagan que parecia estar numa ressaca braba, abriram largos sorrisos. Mr. Smith pegou o megafone das mãos de Alberto Pagan e arriscou num portunhol dos mais sofríveis: "Pagan parece um borrachon, não?". Mais risadas...

Alguns homens riram do comentário de Mr. Smith que tratou de prosseguir com seu  discurso. "Bem, mas, continuando... Eu tinha um cronograma segundo o qual teríamos todo nosso vale restaurado em 6 meses, com todos nós trabalhando num determinado ritmo. E isso incluía a limpeza de toda a área aqui entre estas montanhas, o corte de todo mato ao longo do rio e das ruas, a remoção de toda pedra e entulho que estivesse fora do lugar. Meu plano previa a restauração completa de todas as casas - da fundação ao telhado, passando pelo acabamento, a parte elétrica, hidráulica, a pintura...Meu projeto também vislumbrava novos: campo, vestiários, sede, pensões, área dos churrascos... Novos campos de malha e de bocha, escolinhas (do Balanço e a do Acampamento)...E, caros amigos, segundo meus planos, teríamos  tudo isso concluído em 6 meses, com todos já morando aqui. Mas, depois do que vi a noite passada...Noite, aliás, em que não consegui pregar os olhos... Lembrando-me da alegria que observei no olhar de cada um de vocês, da emoção que tomou conta de cada homem, mulher, jovem, criança... Observando da janela de minha casa as fumaças das fogueiras subindo de todos os acampamentos que mandei montar para que vocês passassem esta noite juntos, eu me dei conta de uma coisa importante. Eu me dei conta que essa coisa mágica, poderosa que vocês sentem uns pelos outros e por cada centímetro deste lugar chama-se AMOR. E amor, amigos... Amor lindo assim não pode e nem deve esperar! Então, em vez de 6 meses (com a presença de suas famílias aqui), decidi que era hora de fazer vossas esposas e filhos voltarem para vossas residências atuais para que nós outros, os profissionais que aqui ficássemos estivéssemos 100% focados no trabalho de restauração. E assim, amigos, não teremos de esperar por longos 6 meses... Mas, apenas 1 mês!...SIM, UM MÊS APENAS...(e aqui Mr. Smith elevou a voz)...para que estejamos novamente todos  reunidos numa grande e inesquecível festa e para, daqui, nunca mais sairmos!". Quando Mr. Smith pronunciou essa última palavra, todos os homens diante daquela plataforma improvisada, começaram a aplaudir, a assoviar a se abraçar! Todos, absolutamente todos, tinham os olhos marejados...

...Continua

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Minissérie Nunca Desista dos seus sonhos - Capítulos 40-41-42-43


Os primeiros raios de Sol começaram a tingir o céu por trás das montanhas, acompanhados de cantos de galo seguidos de uma sinfonia de pássaros e insetos, sons muito familiares à toda aquela gente... Nas barracas, apenas os muito novos ou muito idosos dormiam... Aquela fora uma noite de vigília e de muitas histórias, lembranças, causos, troças, gargalhadas, acompanhados de bules e mais bules de café. Mr. Smith havia deixado provisões nas barracas e essa noite foi regada a café e muita picoca (salgada e doce) que as Filhas da Light não paravam de preparar. Naturalmente, as recomendações daquele líder estrangeiro não foram cabalmente seguidas. Se bem se lembram do que ele dissera: "Dentro de cada barraca vocês encontrarão tudo o que necessitam para fazerem fogueiras, prepararem uma deliciosa refeição e ficarem conversando até por volta da meia-noite, em grupos de cinco a seis famílias, quando então deverão se recolher para uma boa noite de descanso. No interior das barracas também há leitos improvisados. Amanhã, sugiro que se levantem entre 6h30 e 7hs, quando a passarada começar a fazer festa para saudar o novo dia que nasce, que preparem também um rápido café comunitário e voltem para aqui perto desta estrutura para receberem novas orientações...". A parte das fogueiras e das refeições comunitárias foram acatadas, mas, daí para frente, ninguém conseguiu se afastar das rodas em torno das fogueiras para estar de pé entre "6h30 e 7h". Simplesmente ninguém conseguia se afastar daqueles amigos tão queridos, após tantos anos sem contato. Havia muita coisa a ser conversada, muitas memórias comuns, muita emoção e alegria a ser compartilhada... "Vocês se lembram das travessuras do endiabrado Flávio Soares pregando peças em todo mundo noites afora aqui na Vila?", alguém dizia. E gargalhadas vinham acompanhadas de comentários de um e de outro e de mais um terceiro: "É mesmo!"..."Esse era um capeta!"..."Quase matou fulano do coração se fingindo de assombração!"...E mais risadas. Noutro acampamento falava-se de aspectos, digamos, mais "anatômicos" de um e de outro: "Vocês viram como o Décio está fortão?! Será que anda tomando biotônico até hoje ou foi porque mamou até os 7 anos?"...E outra saraivada de risadas!". Gente, e o Billy? Se nariz não pára de crescer a vida inteira, onde aquilo vai parar?! Vai humilhar o pobre do Pinóquio!"...Mais gargalhadas!". "Gente, gente...", uma voz saída da noite invocava a memória coletiva ao redor da fogueira... "...Vocês se lembram que o 'Biunão' gritava 'Cimento de Glória!' e parecia o Capitão Marvel depois do 'Shazam!'? Parecia que se enchia de superpoderes e ficava doidão?" ...Mais sonoras gargalhadas...."Alguém, por favor, me passa o café?"..."Dizem que o 'Cimento de Glória' certa vez fez uso de sua super força e andou deixando um dos filhos do Raul desmaiado em cima do Pinheirinho da casa do Zinho!"..."Nossa!"..."Será que é verdade?"..."Ah, não sei...Ce sabe como o povo exagera! Mas que o sujeito ficava com uma superforça a isso é verdade"..."Ei, ei...Não se esqueçam do 'Bandido Cueca'!" ...Alguém aí quer mais pipoca?!"...




Então se fez dia e o Vale, com suas montanhas e lagos, foi sendo aos poucos tomado por uma claridade incomum, suave, diáfana enquanto as fogueiras ainda cripitavam e davam estalidos ao incandescerem uns poucos galhos que restaram da longa noite de vigilia. Em todos os acampamentos as pessoas se agitavam, cansadas fisicamente pela noite não-dormida, porém, espiritualmente animadas, dispostas, reunindo seus filhos para uma caminhada até a plataforma sobre a qual Mr. Smith lhes passaria novas orientações para o dia. Foi então que uma caminhonete verde, tendo o João de Oliveira ao volante e o tradutor Alberto Pagan ao seu lado, desceu a alameda e cruzou o bosque que circunda as mansões da chefia deixando um rastro de poeira atrás de si. O que chamou atenção foi que o motorista, da Casa de Pólvoras em diante, passou a buzinar insistentemente. E assim se aproximaram do primeiro agrupamento de barracas. Curiosas, perplexas até, as pessoas se aproximaram em silêncio enquanto o calvo Pagan subiu na carroceria da caminhonete e anunciou:"Mudança de planos! Mudança de Planos!". Mr. Smith decidiu que será melhor que todas as mulheres e crianças, exceto as que trabalhavam nas Pensões, se ausentem da Vila e voltem para suas casas pelo período de um mês, quando então serão convidados a regressar em caráter definitivo para a Vila". "Mas...!" . Alguém tentou argumentar quando o tradutor oficial do sr. estrangeiro completou: "Calma! Acreditem. Mr. Smith sabe o que é melhor para todos. Ele já está providenciando transporte para todos. Ninguém terá problema para voltar para casa. O Porcão e todas as viaturas da companhia estão em condições de efetuar o transporte e quantas viagens forem necessárias!". "Mas, e os homens?! O que vai acontecer com a gente? Por que isso agora? O que está acontecendo? O que vamos fazer?" as perguntas surgiram em muitas bocas preocupadas ao mesmo tempo! "Calma, calma! Já disse... Mr. Smith tem tudo sobre controle. Ele quer que todos...absolutamente TODOS os profissionais, independente do cargo que exerciam quando eram empregados da Usina permaneçam aqui. Novas ordens no final deste dia! Agora, ajudem suas mulheres e filhos se organizarem para partir! As conduções para o transporte deles partirá junto à ponte de ferro... Perto da Usina...De onde sempre saiu o Porcão!". E tendo ouvido isto, ainda um tanto confusos, centenas de Filhos da Light viram a caminhonete se afastar, tão rapidamente quanto chegara, para repetir as mesmas instruções em todos os demais acampamentos... !




Os relógios marcavam dez para as quatro quando a multidão de trabalhadores que aguardava em silêncio no pátio que ia desde a entrada da usina, junto à ponte de ferro, até a área dos escritórios e avançando em direção à garagem, percebeu que algo acontecia. Era uma massa compacta de ex-funcionários da usina, de todas as épocas, que tinham, há pouco, visto suas esposas e filhos voltarem às suas casas nas cidades próximas. Estavam voltados instintivamente para o prédio da Casa de Força, como se dali viessem as próximas orientações de Mr. Smith. Afinal, o escritório da chefia ficava ali, no pavimento térreo daquela belíssima edificação que abrigava as turbinas da Usina e era desse escritório que as ordens sempre procediam. A maioria estava sentada no chão e os poucos que conversam o faziam em um tom tão baixo que não passavam de sussurros. Mas, de fato, agora algo acontecia e como se tivessem recebido um comando e ensaiado o movimento, os homens que estavam lá na frente, na altura da entrada da Casa de Força, foram se levantando e os que estavam logo atrás o seguiram formando uma espécie de "Ola" - aquelas ondas de pessoas nos estádios - se formou da frente para trás. Num segundo estavam todos em pé e, lá na frente, era possível perceber os cabelos alourados de Mr. Smith e a calva perfeita de seu intérprete Pagan...

..Continua

domingo, 18 de dezembro de 2011

UM MILAGRE DE NATAL



As luzes do inclinado foram se acendendo, uma a uma, até chegar à casa de válvulas que ficou toda iluminada. A luz era tão forte, que chegava a ofuscar a minha vista e não foi diferente com as casas, a sede e por último a casa de força, como num passe de mágica.

Começou o burburinho e uma grande movimentação como nos velhos tempos, as pessoas tentando arrumar tudo aquilo que ficou adormecido por tantos anos e assim foi acontecendo por todos os cantos no jardim encantado.

As cachoeiras com holofotes enormes que fez um espetáculo a parte, uniu a beleza natural com as cores das luzes, mais parecia uma chuva de prata, jamais vista antes.

Do portão de entrada, passando pela curva dos ventos, tochas acesas dos dois lados, deram à impressão de um lugar medieval. Finalmente a casa de força, com sua capacidade total parecia um gigante soltando fogo. E no alto da montanha formou-se uma grande estrela pelos vaga-lumes, milhares deles.

Parece exagero da minha parte, mas tudo isso é para festejar o aniversário do nosso rei Jesus e foi assim que nós os Filhos da Light decidimos comemorar o Natal.

Que emocionante reencontrar com meus pais, irmãos e todos os amigos que um dia tive que deixar! Começar a faxina, montar a arvore de natal com pinheirinho natural, rever os antigos enfeites, tudo igual, como se alguém tivesse o cuidado de guardar para nós.

Mamãe correndo de um lado para o outro, distribuindo tarefas para que tudo fique pronto para a grande ceia em família. Papai encarregado de quebrar as castanhas como sempre fez, parece até que criou um quebrador de nozes, mas o legal mesmo era quando nós ficávamos em fila esperando ele quebrar na velha porta de madeira da cozinha. Aquele “croc croc” nunca saiu dos meus ouvidos.

O cheiro dos assados que vem do forno de tijolos começa a invadir a casa. Nossas roupas novas todas arrumadas em cima da cama, esse é mais um carinho de mamãe para conosco.

Lá fora está um alvoroço, aquele povo chegando vindo em direção ao grande foco de luz que se formou no céu da nossa vila, como os reis magos que seguiram as estrelas para encontrar o menino Jesus pois todos querem se abraçar e contar as novidades ao mesmo tempo, parece que está acontecendo um milagre de Natal, depois de tanto tempo de espera conseguimos nos reunir aqui.

Dona Luiza acabou de dar o seu toque final no lindo presépio, colocando finalmente o menino Jesus na manjedoura, esse presépio é uma das coisas mais lindas que já vi! Quando éramos crianças, sempre acompanhávamos a sua montagem.

Não esquecendo da linda árvore de Natal do Flávio, que dá para enxergar de vários ângulos da Vila. Em todos os cantos dá para ouvir a música "Noite Feliz "executada por muitos violinos, deixando ainda o ambiente mais tranqüilo.

Alguém esta me informando que toda essa iluminação está chamando a atenção dos meios de comunicação. Tomara que o barulho dos helicópteros não assustem os nossos animaizinhos que, a essa hora, dormem a sono solto.

O certo seria orientá-los para que façam pouso em cima da casa de força e com certeza o nosso querido presidente irá recepcioná-los e esclarecer que, finalmente, conseguimos voltar para o nosso tão sonhado vale encantado e que esse lugar maravilhoso, precisar ser conhecido pelo mundo inteiro.

Felicidade é assim que posso chamar a cada pessoa que encontro, com um grande sorriso querendo partilhar com o seu próximo essa grande vitória que só foi conseguida com as mãos de Deus e tenho certeza que esse é mais um milagre de Natal. Basta acreditar, que com Deus somos mais que vencedores.

O ponto alto do encontro será na sede nova onde já esta tudo preparado, sei que vai rolar muitas lágrimas, mas com certeza de alegria, por termos conseguido nosso maior objetivo que é mostrar que essa imensa luz dos Filhos da Light jamais se apagará, que durante anos e anos as pessoas que lá estiveram, continuam a iluminar as novas gerações para que jamais deixem de lembrar a importância desse lugar maravilhoso.

Desejo que esta luz continue a iluminar nossos corações no ano de 2012, aumentando nossa fé e renovando nossas esperanças.

Com a benção do aniversariante Jesus, um Feliz Natal a todos!

“Dedico esta crônica à nossa querida irmãzinha Adriana Jóia pedindo ao menino JESUS que esteja com ela em todos os momentos de sua vida”.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Mais de 20 mil acessos - Muito obrigada ao som natalino de Elvis Presley

Agradecendo pelos mais de 20 mil acessos e desejando a todos um Natal maravilhoso ao som do rei do rock Elvis Presley.
Espero que gostem!!!
abraços
Natalina

Minissérie - Nunca desista dos seus sonhos - Capítulos 37 - 38 - 39


A tarde já está findando e acho melhor darmos uma última sugestão a todos vocês antes do pernoite de nosso primeiro dia!", anunciou o gringo louro, sempre traduzido pelo competente Alberto. "A dica é a seguinte: os que quiserem aproveitar os últimos raios de sol de hoje para pescar, seja nas águas da cachoeira ou ao longo de todo o rio, em seu caminho rumo à Usina e ao Portão, que está limpinho e piscoso como nunca, fiquem à vontade. Agora, uma última coisa por hoje, queridos amigos, vocês já devem ter visto centenas barracas armadas por todo o campo, no pátio defronte a casa do S. Bentico e ao longo do aterro. São barracas suficientes para todas as famílias. Na verdade, à porta de cada uma delas, há uma etiqueta com o nome da família que deverá ocupá-la. Dentro de cada barraca você encontrarão tudo o que necessitam para fazerem fogueiras, prepararem uma deliciosa refeição e ficarem conversando até por volta da meia-noite, em grupos de cinco a seis famílias, quando então deverão se recolher para uma boa noite de descanso. No interior das barracas também há leitos improvisados. Amanhã, sugiro que se levantem entre 6h30 e 7hs, quando a passarada começar a fazer festa para saudar o novo dia que nasce, que preparem também um rápido café comunitário e voltem para aqui perto desta estrutura para receberem novas orientações e prosseguirmos em nosso esforço de restauração deste nosso Vale Encantado! Fiquem à vontade para conversar bastante ao redor das fogueiras e para caminhar pelas ruas de nosso Vale Encantado. Mas, só façam isso se tiverem boas lanternas. Hoje a Lua estará em quarto-minguante e ainda não recolocamos todas as lâmpadas nos postes de nossa Vila. Isso, por outro lado, permitirá que um maravilhoso “lençol” de trilhões de estrelas esteja perfeitamente visível sobre vocês, num espetáculo que jamais será esquecido! Agora vão... Eu e Mr. Alberto também precisamos descansar. Também estaremos nos recolhendo por algumas horas com nossas respectivas famílias”. E aqui, Mr. Smith dispensou a ajuda do Pagan e ele mesmo se despediu no melhor “português” que conseguiu: “Boa noitchi a todos! Hasta amanhãna!”.


E assim se fez... Aos poucos, podia se ver fogueiras sendo acesas diante de grupos de barracas, nos lugares indicados por Mr. Smith, ao longo de toda a Vila. A noite caía linda e era indisfarçavel a excitação e contentamento daquela gente amiga novamente reunida sob a liderança daquele senhor estrangeiro surgido do nada. Alguns tinham seguido sua recomendação à risca e procurado as margens do rio na estradinha da Escola até a Casa de Pólvora. Outros, subiram com caniços e latas de minhocas até a Cachoeira. Outros, ainda, aventuraram-se em direção ao Largão ou da Pontinha que levava à estradinha da prefeitura. A noite estava quente e a energia por todo o Vale era algo indescritível com aqueles velhos amigos se reencontrando, se lembrando dos locais onde haviam as melhores minhocas - daquelas grandes e espertas que ficavam se mexendo, mesmo no anzol e atraindo tilápias e carás - abrindo caminho no escuro por entre milhares de luzinhas verdes dos pirilampos. Ouvia-se muitas risadas gostosas, ao longe, vindas de  todos os lados do Vale. Era uma noite de reencontros, de encantamento, de se sentir no paraíso... Algumas mulheres, preocupadas com seus filhos ainda pequenos, preferiram ficar perto de suas respectivas barracas, próximas às fogueiras. Elas reuniam o que tinham em suas barracas e resolviam preparar uma refeição comunitária, bem ao "velho estilo Light"! Algumas se lembravam de velhas receitas ensinadas por suas mães e avós... Era tudo muito emocionante... Uma sensação de renascer no rosto de cada pessoa... Não raro, lágrimas de felicidade escorriam-lhes pelos rostos..




...Como era de se esperar, ninguém conseguiu "pregar o olho" aquela noite. E como se tivesse sido combinado em todos os acampamentos, a idéia das refeições comunitárias se espalhou como aquele fogo que, de vez em quando, no Verão, quando o capim gordura estava alto e seco, incandescia toda a montanha e iluminava o Vale embaixo. Então, mesmo depois de terem comido até se fartar e alguns já terem colocado os filhos menores para dormir em suas barracas, cada adulto... Homem, mulher... Achou um bom lugar ao redor da fogueira mais próxima e ali ficou olhando o céu, sentindo a brisa da noite roçando em seus rostos... Rindo... Ou chorando... Muitas vezes de alegria, outras, de saudade... De momentos vividos naquele lugar sagrado e que ficara para sempre em suas lembranças e que agora pareciam reviver! De vez em quando um homem chegava de sua pescaria noturna. Uns voltavam sozinhos... Outros, em grupos... Mas, todos - trazendo uma fieira de peixes nas mãos ou não - tinham um sorriso no canto da boca e a mesma expressão de maravilhamento quando seus rostos reluziam perto das fogueiras! Eram recebidos por suas respectivas esposas, irmãs, mães, filhas, com abraços e beijos e logo ganhavam suas generosas porções de comida! Ao longe, no topo da colina onde aquele agrupamento de belas casas da chefia ficava, observando por entre uma das janelas do piso superior as colunas de fumaça subirem sobre as copas das árvores, brotando de todas as direções da Vila, Mr. Smith, também não podia evitar um sorriso silencioso e de profundo contentamento... "What a night!" (Que noite!)..."What a night!", repetia baixinho...