quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

As Férias dos Castro

As férias do meu pai sempre começavam no dia primeiro de maio. Mas, por ser o dia do trabalhador e nossa Vila ter a maior festança (começava com o tradicional churrasco e terminava com o grande baile que para os jovens era o ápice da festa) ele deixava para o dia seguinte, quando colocava as bagagens no seu automóvel e saía para suas merecidas férias, já que sua profissão de ferreiro exigia muito durante todo o ano.



Lembro-me como hoje, que as férias eram divididas em duas partes: A primeira era a ida para o sitio do Tio Pedro na cidade de Elias Fausto-SP (próximo a Campinas) e apesar de não avisarmos nossa chegada, pois naquela época ainda não existia telefone por lá, éramos muito bem recebidos.


Até posso imaginar o que eles pensavam vendo aquele carrão cheio de crianças descendo para ficar uma semana. Não faz muito tempo e um dos meus primos esteve nos visitando e comentou que eles pensavam que éramos ricos e sentiam até um pouco de inveja quando meu pai parava aquele carro enorme, na verdade eles raramente viam por lá.


Comentou também que vida na roça era muito dura e que até as crianças começavam muito cedo na labuta para ajudarem a família que era grande. Hoje Graças a Deus e muita perseverança estão todos bem.

O que eu mais adorava era a hora de levar o almoço para o pessoal na roça, foi lá que conheci plantações de berinjela, tomates, pimentão e moranguinho, que forma trazidas pela cultura japonesa.


Enfim, depois de atrapalhar um pouco a rotina dos parentes voltávamos para a nossa casa.Viajar era bom, mas voltar para o nosso vale encantado era muito melhor, era como se vivêssemos em férias sempre.

Meus pais seguiam para a segunda etapa da viagem, rumo à cidade de Aparecida do Norte-SP e agora eram só os dois!

Mamãe arrumava os cabelos e colocava sua melhor roupa; meu pai preparava seu terno de casimira, sapatos de couro mandado fazer sob medidas, chapéu da fábrica Ramenzoni três X e seguiam para Aparecida onde os católicos costumam ir até hoje para agradecer as graças recebidas durante todo o ano.


Ficavam num hotel bem próximo a Catedral e assim podiam acompanhar todos os eventos religiosos: missas, novenas e a benção das três da tarde que mamãe acompanhava o ano inteiro pela rádio Aparecida.


Enquanto aguardávamos o recado deles pela rádio em casa na vila a minha irmã mais velha Nair já estava surtando de tanto apartar brigas das crianças que eram uns “pestinhas”.


Às dez da manhã do dia seguinte nós ficávamos de ouvido colado no nosso rádio de válvula para ouvir as vozes dos nossos amados avisando que tinham feito uma ótima viagem.


Acreditem na época era muito chique isso, pois o rádio era um meio de comunicação muito importante.


Aguardávamos ansiosos pela volta deles, afinal traziam um monte de presentes, incluindo as medalhas de santos que em um passe de mágica sumiam todas (Já viu criança guardar direito as coisas... rsrsr).


O jeito era esperar as próximas férias onde tudo se repetia e posso afirmar o quanto era muito bom. Depois que eu cresci passei a levá-los para a tão famosa viagem a cidade de Aparecida, meu pai já com idade avançada gostava de almoçar nos melhores restaurantes e adquirir nas lojas de souvenirs canivetes para a sua coleção que foi desfeita após a sua partida.


Peço desculpas se hoje me alonguei um pouco mais, mas sempre me emociono com as doces lembranças que vivi.

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