quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sarampo,calça nova & livros



Quando minha irmã casou foi morar na casa dos sogros. Logo na entrada, ficava o porão onde para a minha alegria funcionava uma pequena biblioteca.

O meu sobrinho Paulo contraiu sarampo e minha mãe me mandou para lá ajudar a cuidar dele, aliás, era muito comum da parte dela, ora era uma comadre que adoecia ou uma amiga que tinha acabado de dar a luz e as vezes até fazia promessa para a gente cumprir.

Minha função era tomar conta do bebê, mas quando ele dormia eu podia descer até o porão e foi lá que tive o primeiro contato com livros infantis: O gato de botas, Chapéuzinho vermelho, João e Maria e outros que me encantavam.

Confesso que com o passar dos dias já não estava com muita paciência com o menino, o danadinho acostumou no colo e não dava tempo para eu ler.

A sogra da minha irmã decidiu que iria fazer uma calça comprida pois meu vestidinho era muito chinfrin. Neste período em que eu cuidava do bebê e ia lendo meus livrinhos a calça ficou pronta e para estreá-la me levou ao cinema assistir o filme Marcelino Pão e Vinho.

Chegando lá a fila dobrava o quarteirão, nunca vi tanta gente na minha vida. Não entendi muito bem o filme pois estava começando a ler e as legendas mudavam muito rápido. Até hoje não sei do que o menino morreu, mas todo mundo saiu chorando.

Como o Paulinho estava melhorando, já não precisavam mais mim, voltei para a Vila ditando moda com a roupa nova e um monte de livros em baixo do braço para meus irmãos também.

Passados alguns dias, comecei a ter uma febre alta e meu corpo ficou cheio de manchas vermelhas... Adivinha? O sarampo veio junto com a calça nova e os livros.

Para arrebentar o sarampo, a febre tinha que ir até quase 40 graus e tomar chá de sabugueiro, confesso que não foi fácil e quase morri.

Não sei se era a febre ou o chá, mas me lembro de pular na cama parecendo voar e correr pelo quarto atrás de um mosquito invisível... rsrsr

Mas como tudo tem o seu lado bom, fiquei um tempão sem ir à escola, não que não gostasse, mas sou a favor do ensino a longa distância!

Grandes amigas




Como todos sabem na vila, éramos pessoas muito simples até porque o lugar não cabia grandes luxos.
Quando a família era grande como a minha, as roupas e sapatos eram repassadas do maior para o menor, chegando ao último já estavam quase rotos.

Os sapatos eram comprados dois números a mais, pois os pés não paravam de crescer, e só comprava outro quando o mesmo estivesse furando, que na verdade demorava bastante, pois só andávamos descalços.

Minha amiga Deusa Pedroso morava na beira da represa da light e na escola sentavamos na mesma carteira. Muitas vezes fui posar em sua casa e voltava no dia seguinte. Era uma aventura ir na carroceria do caminhão com cabelos soltos ao vento e as mãos segurando firme no apoio para não cair com os solavancos, pois a estrada de terra era toda cheia de buraco.

Chegando a sua casa, era muito bem recebida pelos seus pais Senhor Cipriano e Dona Maria e sua irmã Deise, pessoas maravilhosas de quem me lembro com muito carinho.

Não posso deixar de contar que no jantar Dona Maria servia traíra frita em postas de três centímetros temperadas com sal e pimenta passada no fubá. Era de lamber os beiços.

Enquanto isso mamãe sabendo que eu estava precisando de roupas costurou até tarde para me fazer uma surpresa. De manhã logo que cheguei pedi sua bênção como era nosso costume, e ela foi me mostrar à novidade.

O vestido ficou lindo, branco de bolinhas vermelhas, com gola e mangas, franzido na cintura e uma faixa terminando em um laço. Serviu como uma luva até desfilei para quem estava lá.

Eu estava radiante ate mamãe contar que o lindo vestido tinha sido costurado a mão, pois no momento estava sem a máquina, que de vez em quando por algum motivo meu pai vendia, mas logo em seguida comprava outra.

Naquela época na vila quando morria alguém as senhoras varavam a noite costurando a mão a tal de mortalha do defunto (Que mais parecia uma fantasia de carnaval).

Diante disso, além de ser medrosa era também supersticiosa e logo pensei ,vai que o cara lá de cima me confunde com essa roupa. Rasguei em meu corpo diante do olhar espantado de todos principalmente da minha mãe sei que ela ficou muito triste e dessa vez nem apanhei. Minha amiga assistiu tudo quietinha. Depois deste episódio fomos para a escola e continuamos nossa vida normalmente.Alguém que viveu nessa época poderia me esclarecer sobre esse costume?
*Dedico esta crônica especialmente as filhas da light Deusa e Deise e aos seus familiares.

domingo, 18 de julho de 2010

O Piu Piu


Lá em casa,quando eu era pequena, tínhamos uma criação de galinhas. Na verdade era da nossa mãe, mas nós crianças, gostávamos de ajudar às vezes recolhendo os ovos e até mesmo quando eram colocados para chocar. Tinha toda uma preparação: o ninho era arrumado num cesto posto em lugar alto, longe do alcance dos cachorros e após 21 dias começavam aparecer as primeiras bicadinhas, que nós, no intuito de ajudar, íamos tirando a casca, o que nem sempre era o melhor para eles, coisas de crianças.Passado algum tempo, quando meus filhos eram menores,nós fomos a uma feira de animais e lá eles ganharam um pintinho (daqueles que são chamados de refugos). Mas como o que ganhamos foi bem tratado, sobreviveu.Criado solto em casa, ia fazendo a maior sujeira e, para o meu desespero, cada dia que passava, meus filhos ficavam cada vez mais apegados a ele.Até nome já tinha o danadinho: Piu Piu.Quando a Áurea, que ainda trabalha em casa, estava para casar, me pediu para reformar o vestido de noiva que foi de sua cunhada.Coloquei a máquina de costura na copa assim enquanto costurasse ficaria de olho nas crianças que por sinal eram muito sapecas.Terminada a reforma que levou vários dias ,fui dobrar o vestido para colocar na caixa, que,para minha surpresa estava todo cheio de cocô, feito pelo Piu Piu.Diante dessa situação,o jeito foi lavar o vestido.O maior problema foi quando coloquei na água e os bordados foram embora pelo ralo do tanque,pois estavam só colados.Em seguida coloquei no cabide e deixei secar na sombra,num lugar bem alto, de medo do bichinho.Gostaria de dizer que vestido foi recuperado a tempo,fui madrinha da noiva e tudo.Mas o casamento não durou nada.Quanto ao Piu Piu cresceu e virou uma baita de uma galinha, foi para galinheiro da minha cunhada onde sempre as crianças iam visitá-lo.Hoje meus três filhinhos são três adultos muito responsáveis e que eu amo tanto !!!

sábado, 17 de julho de 2010

Mudamos de nomes


Todas as manhãs logo que levantávamos, depois de tomar o nosso café, subíamos o escadão feito de madeira para brincar de casinha. Assim que atingiamos o último degrau, chegava-mos.
No local nós calçávamos sapatos de saltos, improvisados por mim que, na verdade, eram quatro pedaços de cabos de vassoura de uns 10 cm, que eu fixei com um prego. Confesso que não ficou uma brastemp, mas no vale do faz de conta tudo era válido.Feito isso, mudávamos os nossos nomes , já não éramos mais Nata e Isa , mas sim Dica e Philadelphia .Após pequenas mudanças,começávamos a brincar.Nossa casinha media 2 x 2 metros de largura por 1 metro e 80 de altura. A cobertura era feita de capim jaraguá que se encontrava pelos arredores. O fogão de lenha era feito com alguns tijolos. Quando a comida ficava pronta tinha gosto e cheiro de fumaça,mas mesmo assim nós a comiamos.No lado esquerdo ficava uma
pequena prateleira onde colocávamos os pedaços de louças e cacos de cristais que apareciam quando era revolvida a terra da nossa horta, que era ao lado da nossa casinha.Parecia caça ao tesouro.Acho que eram dos antigos moradores. Bons tempos aqueles, pena que não guardei nada. Com certeza foram momentos maravilhosos que vivi com minha querida irmã Isa que guardo com muito carinho Só voltavamos a realidade quando mamãe nos chamava para almocar e ir para a escola. Não viamos a hora de chegar outro dia para comecar tudo de novo .

Graças a Deus tivemos uma infância maravilhosa

São só sete notas




Minha terra tem palmeira

Onde canta o sabiá

As aves que aqui gorjeam

Não gorjeiam como lá

(Gonçalves Dias)


Eu cresci ouvindo esta e outras poesias sendo declamadas pela minha mãe.Gostava também de música e era muito afinada quando cantava luar do sertão ou saudade do matão e muitas outras que no momento não me recordo.Quando eu era muito pequena com uns oito ou nove anos, ela me disse que para compor uma musica precisava somente de sete notas, ela sabia porque seus tios eram compositores e músicos e ela estava sempre por perto ouvindo as suas lindas composições.Para mim, que era criança, era difícil de entender como era possível compor tantas canções só com sete notas sem se repetir, alias,até hoje eu acho fantástico. Tenho em meus guardados as poesias de sua autoria. de minha mãe. Esse foi apenas um dos dons que Deus lhe deu, pois tudo que fazia era muito bem feito: Costurar , cozinhar ,fazia doces e bolos de dar água na boca,bolinho de bacalhau e cuscuz no bafo era sua especialidade,entre outras coisas.Ela era uma pessoa de fé ,muito corajosa.Quando ficaram morando na vila só ela e papai, era ela que levantava de madrugada para conferir se estava tudo bem,não tinha medo de nada.Agora eu não posso dizer o mesmo sempre fui muito medrosa.Me lembro muito bem de quando era pequena e sentia medo durante a noite eu inventava uma dor de dentes, ela sutilmente parecia acreditar,me dava um pano quente para colocar no rosto, e deitava ao meu lado em seguida ja estava roncando,que para mim esse som parecia uma musica.Será que foi feita com as sete notas ou era uma canção divina?


Esta crônica eu dedico a todas as mamães.


quinta-feira, 15 de julho de 2010

Meu Retrato


MEU RETRATO


Acho que não sei contar histórias assim de voz alta, mas penso que sou capaz de conta-lás escrevendo.

Depois de lerem as lembranças que vivi que não são poucas vocês poderão me julgar.

Gosto do amanhecer, de chuva, música, café e de livros. Adoro bater papo com minha família e os meus amigos tomando um copo de vinho ao lado da lareira, quando a casa fica quentinha. Detesto sapatos apertados, guarda chuvas e o celular só uso para fotografar.

Tenho saudade de muitas coisas, principalmente da minha infância que a cada dia fica mais distante, só me arrependo das coisas que não fiz. Das que fiz se não foram tão boas pelo menos sobrevivi. Durmo pouco e esqueço tudo: tomar remédios, onde coloquei as chaves do carro e datas de aniversário, daí fico com vergonha.

Meus melhores amigos são meus filhos, amo os jovens e as crianças são lindas, mas confesso já tive mais paciência.

Não sei cantar, mas tenho um videokê, cozinho razoavelmente e fico muito feliz quando consigo reunir minha família ao redor de uma mesa, até porque receber elogios é uma delícia.

Já andei de avião e a viagem durou 40 minutos, não deu nem tempo de engolir o lanche que foi servido.

Meu sonho é viajar para Memphis conhecer a mansão onde o Elvis morou, GRACELAND e ter uma casa com uma varanda bem grande onde eu possa receber todas as pessoas que eu amo e cozinhar muitas coisas gostosas pra eles.

Estou com 62 anos, não sei se vai dar tempo de fazer tudo que eu quero!
Ia me esquecendo, apesar de ter nascido na light nunca aprendi nadar, bem que eu tentei. Os amigos são tudo em nossas vidas principalmente nos momentos mais difíceis, mas para os alegres também são bem vindos.
Neste momento curto muito que minha filha Mary esta me dando aula de computação, tudo bem que eu inventei umas palavras novas, mas pra que existe o dicionário do Aurélio, né!

Não gosto da palavra VELHO soa como traste ou trapo (Essa conversa já esta cheirando ranço), na linguagem do sebo algo com mais de 50 anos se chama raridade. Com a minha idade já estou me SENTINDO uma relíquia.

A vida nos revela muitas surpresas espero que Deus esteja sempre conosco!

Votorantim 11 de julho de 2010 Viva a Espanha que ganhou a copa do mundo
.

domingo, 11 de julho de 2010

MIL E UMA UTILIDADES




Mil e uma utilidades

Acharam que eu ia falar do Bombril, puro engano! Hoje eu quero contar tudo sobre o saco... Isso mesmo aquele que vem com açúcar e farinha de trigo, esse artigo de luxo era o que fazia maior sucesso lá em casa.

Por sermos uma família numerosa minha mãe já comprava tudo de saco: 60 kilos de açúcar, 50 kilos de arroz, farinha e assim por diante, depois ela lavava o dito cujo com alvejante que por sinal ficava bem branquinho.

Nossos lençóis, toalhas de mesa, de rosto e banho todas eram feitas desse material, dois sacos era igual uma toalha de mesa que ela nos ensinava o bordado e depois a Nair fazia o crochê, toalha de banho era um saco de açúcar cristal, pois seu tecido era mais grosso, nós desfiávamos os dois lados e fazíamos um tipo de macramê.

Para os lençóis de solteiro utilizavam dois e ½ sacos e os de casal quatro, nas roupas dos meninos os sacos mais grossos faziam as calças com suspensórios que minha mãe tingia com tinta guarani (aquela que ficava um tempão cozinhando as roupas), para não ficar tudo igual, uma era azul e a outra verde ou marrom. As camisas ela deixava branca e era de saco farinha (mais macio). Mais branco era modo de falar, com aquela terra vermelha ficava encardida!

Encurtando a história: nossos pijamas, camisolas, aventais, panos de pratos, sacolinhas para levar os cadernos na escola e até pano de chão era tudo do mesmo saco. Agora sei por que nunca gostei de roupas de marca e os meus filhos também não ligam, será porque acostumamos com roupas exclusivas?

Nossa mãe não tinha idéia que fazendo tudo isso conosco, além de desenvolver o nosso lado artístico proporcionava o entrosamento entre os irmãos, enquanto fazíamos os bordados ela ia contando as histórias da sua vida (que, aliás, eram muito lindas) e com isso o tempo passava rápido e confesso que me lembro delas até hoje.

Quem deixava as roupas de casas branquinhas era a Dona Zoraide, lavadeira oficial da Light, além da nossa mãe ela tinha várias freguesas no acampamento.

Uma vez fui visitá-la e fiquei impressionada de ver como ela lavava as roupas, era num córrego com uma tábua atravessada de lado a lado e ela ficava ajoelhada na beira. Fico imaginando quantas peças devem ter escapado de suas mãos e ido por água abaixo.

Nós gostávamos muito dessa senhora, era mais que uma lavadeira era uma amiga. Todas as segundas ela mandava um dos seus filhos buscarem a trouxa de roupa suja, mas nas sextas ela fazia questão de fazer uma caminhada até o balanço para entregar as roupas limpas e sentar para um bate papo com mamãe tomando um cafezinho feito na hora enquanto isso nós brincávamos com os filhos dela.

O único pedido de mamãe era que ela usasse Anil, para as roupas ficarem bem branquinhas, quer dizer, azuladas, na verdade essa era a maneira que mamãe achou para ajudá-la, pois sua vida era muito dura, seu marido era paraplégico e as filhas Nazira e Zenaide (que foi babá do Billy) ajudavam nas despesas trabalhando como domésticas, os meninos Abimares e Abimael faziam limpeza nos jardins dos moradores da vila e Adelaide e Irineu eram crianças.

Mas voltando a sacaria, na linguagem de hoje tudo isso se chama customizar, já imaginaram nós desfilando no São Paulo Fashion Week e com nossos produtos vendidos na Daslu?

Esta crônica é dedicada especialmente à querida Simone Adami.
Beijos

sábado, 3 de julho de 2010


Festa Julina

Que povo é esse que Deus colocou em Itupararanga, que estão sempre prontos a ajudar mesmo que seja com uma simples palavra? Seriam seres de outros planetas ? Estou começando a acreditar que sim.Ontem assistindo um programa da TV local, vi a Toninha do Seu Belmiro dando uma entrevista. É o sétimo ano que ela faz uma festa julina em frente a sua casa para crianças menos favorecidas e que não podem freqüentar a festa de Votorantim, que ficou um pouco elitizada. Durante o ano inteiro, ela faz contato com os empresários da cidade para que o evento seja um sucesso. Comes e bebes, brincadeiras com muitos prêmios são todas de graça. Essa mocinha que nasceu na Light é muito famosa.Está sempre na mídia dando entrevistas devido a esse trabalho tão bonito que ela faz. Não posso deixar de homenagear essa família que conhecemos tão bem. Seu Belmiro foi um herói quando assumiu todas crianças sozinho, sendo que, seu caçula Isaias era apenas um bebezinho.
Meu carinho para as meninas, principalmente Clemilde (Clima) que por ser a mais velha, assumiu o papel de mãe e educou os irmãos com muito amor. Por tudo, ainda assim não faltavam as aulas. Lembro muito bem do Alberico e Ludenor quando estudamos juntos. Sempre muito respeitosos, sempre se referiam aos mais velhos por senhor e senhora. Seu Belmiro era de baixa estatura e com uma voz muito forte que o fazia falar um pouco mais alto, com aquele jeitão caipira de ser. Quando estava passando por provações, sentava no trole com o chapéu afundado na cabeça como se quisesse esconder do mundo, triste sim, mas não derrotado. Criou sua família com a maior dignidade, basta ver seus filhos e netos como são queridos por todos que os conhecessem. Gostaria de pedir para o Pastor Tiago que nos contasse um pouco das estórias fantásticas lá no alto do morro, galopando em seus cavalos e ordenhando as vacas, enfim esse jeito de viver de caubói. Que bom que a Nilza está mais próxima de nós, através do blog. E VIVA OS FILHOS DA LIGHT !!!