AMÍDALAS OU "AMIDAS" ?
Na
semana passada, em visita ao meu médico, ele foi taxativo.
Disse-me ali, "na lata", que tão cedo não vou ficar curada da artrose
que tenho no joelho, recomendando-me muito repouso. Como sou
obediente, acatei a ordem do doutor e aproveito para ficar escrevendo; o
que, aliás, é uma delícia porque fico viajando neste "Túnel do Tempo",
que me proporciona muita felicidade.
Pensando
bem, os médicos poderiam ser mais piedosos com os seus pacientes, pois
como diz um ditado antigo: “Uma boa palavra cura até falta de dinheiro”.
Talvez seja por isso que os videntes estão sempre lotados, ninguém sai
de lá sem alguma esperança: para as solteiras, você vai arrumar um
namorado lindo, rico, não vai precisar trabalhar e vocês vão ser felizes
para sempre.
Às separadas,
seu marido ainda te ama e vai voltar para você. São doces mentiras,
como aquela outra: "Você vai ganhar SOZINHA na megasena acumulada. Vai
que dá certo!"
Quem
já leu "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector, sabe como a Macabéa
morreu feliz. Na vila da Light raramente víamos um médico. Dr. Garcia,
que resdidia em Votorantim, aparecia muito esporadicamente, quando
alguém precisava dos seus cuidados. Ele vinha com seu jipe, pois as
estradas eram todas de terra e quando chovia era um lamaçal só.
Quando
o caso era dor de garganta, o problema era resolvido rapidinho. O
paciente era levado para a Santa Casa de Sorocaba, para
ser atendido pelo Dr. Stilitano que sem pensar muito já ia logo tirando
as duas amídalas (ou "amidas" como diziam os menos letrados) de quem
estivesse ali com a boca aberta à sua frente.
Cirurgia
feita, o paciente voltava para a vila da Light no Porcão de 1h20 da
tarde, com direito a chupar tantos sorvetes quanto conseguisse para ir
aliviando aquela sensação de beliscada na garganta, oba!! Não tenho bem
certeza, mas acho que metade de ex-moradores da vila não possui mais
este órgão...
Mas, na verdade, nossas mães, mais que médicas, eram sábias. Sempre tinham
remédios para tudo: mercúrio cromo, servia para todos os tipos de
ferimentos (menos picadas de cobras); chá de poejo e hortelã, para
lombrigas assanhadas dor de barriga e gases; folha de batata doce cozida
em água, santo remédio para dor de dente. Para
deixar o filho lindo e corado, Biotônico Fontoura, aquele em cuja bula
tinha o Jeca Tatu e os animais todos calçados com botinhas. Batido no
liquidificador com leite moça e ovos de pata, então, o biotônico ficava
uma gostosura!
Não
posso me esquecer do famosíssimo "Óleo de Fígado de Bacalhau" aquele
que tinha um homem fazendo força para carregar um baita peixão nas
costas (mas este já era mais caro, não era pro nosso bico).
Mas,
fantástico mesmo, era o melhoral, um "santo remédio" segundo o meu
pai.Todas as vezes que ele saía do banho, ele tomava um, para não pegar
resfriado (e, sim, ele tomava banho todos os dias!). Na verdade, ele
tinha horror à água fria, por isso nunca nadou na Cachoeira. Tadinho,
não sabe o que perdeu!
Lembro-me
que, na vila, raramente ficávamos doentes; excetuando-se as pequenas
enfermidades já citadas, éramos todos saudáveis. Será que por
andarmos descalços, pouco agasalhados, bebermos água da bica (com açúcar
cristal e limão), comermos goiabas bichadas, manga com sal, chuparmos
cana na roça do Sr. Claudino, criamos resistência?
Se
tudo isso fez bem para nós tenho cá minhas dúvidas... Só sei que todos
sobrevivemos com muita saúde, sem contar as complicaçõesinhas próprias
da idade e que agora tem quatro dos nossos tentando salvar o planeta,
digo a nossa vila. A primeira letras de seus nomes seriam J.O.B.B e
parace que os tais, se auto-intitulam "Os 4 Mosqueteiros" ou "Os 3
Mosqueteiros mais Dartagnan". Pelo que sei esses combatentes já tem até
um blog, com mais de 60 mil acessos em menos de um ano chamado "Filhos da Light".
Que Deus tenha piedade de seus adversários! (God have mercy) Porque saúde, os caras devem ter...e muita!!
(Quase
ia me esquecendo de outra de nossas iguarias miraculosas: içás
torradinhos na chapa, com sal. Que levante a mão quem nunca comeu!)