terça-feira, 22 de agosto de 2017

Histórias para Aquecer o Coração

Histórias para Aquecer o Coração 

Seu Crispim sempre foi um grande artista! Quando estava para casar logo começou a pintar sua casa que, por acaso, era ao lado da nossa, no Balanço. Sempre soubemos que ele era pintor de paredes, mas a que ele fez na sala da sua casa foi uma obra de arte! Eram desenhos imitando madeira, de 1m50 de altura, ao redor de toda a sala. Era tão perfeita, a pintura, que tinha-se a nítida impressão de tratar-se de madeira envernizada, proporcionando um efeito maravilhoso. Depois da etapa da pintura foram chegando os móveis dos noivos: sala de jantar de madeira, mesa, cadeiras, duas peças que não sei o nome, uma cristaleira e o jogo de quarto, também em madeira, combinando com os móveis da sala.
Dona Luiza morava em Votorantim e sempre que podia dava uma chegadinha lá para os últimos retoques. Para nós, crianças, era tudo novidade e lembro com carinho especial da cortina de crochê com desenhos de anjos. Depois que seu Crispim e Dona Luiza se casaram, vivíamos na casa deles, tínhamos uma liberdade de entrar e sair... até demais!
Num desses dias, eu estava ajudando na limpeza e encontrei uma grande mala (mais parecia um baú revestido de couro), em cima do guarda roupa no quarto grande deles, onde ninguém tinha acesso. E certo dia, D. Luiza resolveu abrir a mala para a nossa alegria, já que eu e meus irmãos estávamos morrendo de curiosidade desde que o "baú" fora descoberto. Mas, valeu à pena esperar: aquilo parecia um sonho! Dali sairam coisas maravilhosas: talheres de prata, cristais, porcelanas e muitos vestidos de seda, alguns estavam até se desfazendo, devido ao tempo guardado, pois esta mala era de uma tia do Senhor Crispim, lá da Bahia.
Na medida em que a família ia crescendo, nós íamos acompanhando também e eu deveria ter uns 9 anos quando recebi a missão de levar a Denise recém-nascida (que era afilhada da minha mãe) para ser amamentada pela D. Biga. Dona Luiza não tinha leite suficiente e toda manhã eu ia até sua casa pegar o bebê - isso era feito várias vezes ao dia, mas eu só ia na parte da manhã.
E numa dessas manhãs lá fui eu, toda alegre e saltitante, com o bebê no colo, só que quando comecei descer os escadões resolvi pular os degraus de 2 em 2 . Bom, isso foi fácil demais e daí resolvi experimentar de 4 em 4 degraus e não é que virei o pé e voei com a pobre denise no colo?!
Nesse momento, o “pacote”, quer dizer, o "bebê" voou também! Mas rapidamente eu levantei, tirei os pedregulhos do joelho e corri pegar a Denise que estava a uns 4 metros de mim. Para minha sorte, D.Luiza tinha caprichado no “pacote” e sua filhinha estava muito bem embalada, tanto que ao pegá-la do chão estava tudo perfeito, na verdade, ela continuava dormindo! Seguimos então em frente, eu a pobre nenezinha, até a casa da Dona Biga. Chegando lá a Denise mamou tranquilamente, como de hábito, e voltamos sãs e salvas para casa.
Claro que eu não contei para ninguém o que houve, mas, agora, depois de tantos anos, resolvi recolher esses momentos mágicos em minha memória e dividi-los com todos vocês, numa singela homenagem que presto a esta família tão especial e querida que eu não vejo há tanto tempo...

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