Histórias para Aquecer o Coração
Seu
Crispim sempre foi um grande artista! Quando estava para casar logo
começou a pintar sua casa que, por acaso, era ao lado da nossa, no
Balanço. Sempre
soubemos que ele era pintor de paredes, mas a que ele fez na sala da
sua casa foi uma obra de arte! Eram desenhos imitando madeira, de 1m50
de altura, ao redor de toda a sala. Era tão perfeita, a pintura, que
tinha-se a nítida impressão de tratar-se de madeira envernizada,
proporcionando um efeito maravilhoso. Depois da etapa da pintura foram
chegando os móveis dos noivos: sala de jantar de madeira, mesa,
cadeiras, duas peças que não sei o nome, uma cristaleira e o jogo de
quarto, também em madeira, combinando com os móveis da sala.
Dona
Luiza morava em Votorantim e sempre que podia dava uma
chegadinha lá para os últimos retoques. Para nós, crianças, era tudo
novidade e lembro com carinho especial da cortina de crochê com desenhos
de anjos. Depois que seu Crispim e Dona Luiza se casaram, vivíamos na casa deles, tínhamos uma liberdade de entrar e sair... até demais!
Num
desses dias, eu estava ajudando na limpeza e encontrei uma grande mala
(mais parecia um baú revestido de couro), em cima do guarda roupa no
quarto grande deles, onde ninguém tinha acesso. E certo dia, D. Luiza
resolveu abrir a mala para a nossa alegria, já que eu e meus irmãos
estávamos morrendo de curiosidade desde que o "baú" fora descoberto.
Mas, valeu à pena esperar: aquilo parecia um sonho! Dali sairam coisas
maravilhosas: talheres de prata, cristais, porcelanas e muitos vestidos
de seda, alguns estavam até se desfazendo, devido ao tempo guardado,
pois esta mala era de uma tia do Senhor Crispim, lá da Bahia.
Na
medida em que a família ia crescendo, nós íamos acompanhando também e
eu deveria ter uns 9 anos quando recebi a missão de levar a Denise
recém-nascida (que era afilhada da minha mãe) para ser amamentada pela
D. Biga. Dona
Luiza não tinha leite suficiente e toda manhã eu ia até sua casa pegar o
bebê - isso era feito várias vezes ao dia, mas eu só ia na parte da
manhã.
E
numa dessas manhãs lá fui eu, toda alegre e saltitante, com o bebê no
colo, só que quando comecei descer os escadões resolvi pular os degraus
de 2 em 2 . Bom, isso foi fácil demais e daí resolvi experimentar de 4
em 4 degraus e não é que virei o pé e voei com a pobre denise no colo?!
Nesse
momento, o “pacote”, quer dizer, o "bebê" voou também! Mas rapidamente
eu levantei, tirei os pedregulhos do joelho e corri pegar a Denise que
estava a uns 4 metros de mim. Para minha sorte, D.Luiza tinha caprichado
no “pacote” e sua filhinha estava muito bem embalada, tanto que ao
pegá-la do chão estava tudo perfeito, na verdade, ela continuava
dormindo! Seguimos
então em frente, eu a pobre nenezinha, até a casa da Dona Biga.
Chegando lá a Denise mamou tranquilamente, como de hábito, e voltamos
sãs e salvas para casa.
Claro
que eu não contei para ninguém o que houve, mas, agora, depois de
tantos anos, resolvi recolher esses momentos mágicos em minha memória
e dividi-los com todos vocês, numa singela homenagem que presto a esta
família tão especial e querida que eu não vejo há tanto tempo...
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