sexta-feira, 21 de maio de 2010

VITRO S/A

Alguns dias atrás eu estava folheando uma coletânea da Revista Seleções, de 2005, e, num artigo com o título “Economize Fácil”, eu me deparei com uma fórmula sobre como fazer carimbos com batatas. Nunca imaginei que um cara dos EUA estaria ensinando uma “novidade” que o Billy já fizera na Light há 40 anos! Isso aconteceu na “VITRO” (uma sigla da conjunção dos sobrenomes VIveiros + CasTRO), para quem nunca ouviu falar, um atelier de artes e desenhos para estampar, de propriedade dos meus irmãos Wande, Paulo e João, aos quais se juntou o Billy, algum tempo depois. Essa espécie de mini estamparia ficava em uma sala de 1m50 x 2m e 1m80 de altura, encravada sobre o paredão que havia no fundo do quintal de nossa casa. Era algo meio medieval, totalmente artesanal... Ali, os sócios passavam as tardes ouvindo música, trocando ideias sobre o andamento da firma, fazendo desenhos e matrizes para as pinturas que seriam estampadas em camisetas e outras peças de roupa. Neste meio tempo, mamãe preparava o café da tarde, ora com bolo de fubá, ou bolinho de chuva, ou até pão feito em casa com manteiga. Nas tardes quentes, não faltava uma deliciosa limonada! Nós, da família Castro, morávamos no Balanço e toda tarde juntava-se a nós, subindo lá do Acampamento, aquele garoto simpático, de cabelos claros, lisos, caídos na testa, com sua pasta embaixo do braço. Não sei exatamente do que falávamos, mas aqueles momentos foram de grande felicidade para todos nós, pois, ali, ninguém estava preocupado com o futuro; vivíamos intensamente cada dia como se fosse o último em nossas vidas. Lembro, como se fosse hoje, da saia que o Wande pintou para eu pular Carnaval. Eu tinha uns 18 anos e fui toda charmosa com minha roupa estilo hawaiana. Os meninos chegaram a ganhar algum dinheirinho comprando e estampando camisetas e as vendendo em lojas de Sorocaba. Havia estampas com dizeres em alemão, com o rosto de Jesus, com frases de efeito da época e com uma série de outras imagens. Recentemente fiquei sabendo que derrubaram a nossa casa lá na Light. Confesso que me deu um aperto no peito saber que, o lugar onde nascemos e crescemos, já não existe mais. O que me conforta, contudo, é saber que nas nossas recordações ninguém pode tocar e que a Vitro, de algum modo, continua lá, impossível arrancá-la daquele paredão tão forte e que nossos sonhos ainda estão guardados para sempre...


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