Ferraria José de Castro na Rua 21 de Abril - Elias Fausto/SP
Cada vez que soava o apito da usina ele se levantava as pressas do seu leito quente, colocava uma capa amarela, botas e capacete e saia correndo apagar o fogo no mato que alguém por pura imprudência colocava lá (apagavam fogo com uma vassoura improvisada e tinha que entrar mato a dentro).
Muitas vezes só voltava a tempo de tomar um banho e um café rápido e ia trabalhar na ferraria bater ferro o dia todo. Esta pessoa que poucos conheceram bem e faziam julgamento pelo seu jeito de ser (My Way) era um pai maravilhoso. Até o dia da sua partida estava preocupado conosco mesmo estando esclerosado.
Na nossa educação não interferia deixando a cargo de minha mãe, pois naquele tempo o homem era o provedor e a mulher cuidava da casa e dos filhos. Era uma delícia ter nossa mãe sempre ao nosso lado, ela que não devia gostar muito, pois aprontávamos de tudo, idéias malucas não nos faltavam!
Nascido em um sítio na cidade de Elias Fausto. perto de Campinas, sempre trabalhou na lavoura, daí ter se desenvolvido muito cedo, com 16 anos já tinha 1,85 de altura, homem feito.
Cansado de trabalhar para os italianos, pediu dinheiro para seu tio que era mais abastado para uma plantação de batatas que foi uma beleza, deu até para casar com a nossa mãe, pois já namoravam há algum tempo.
Com o passar dos anos resolveu montar uma oficina de ferreiro onde aprendeu a profissão. Sua empresa tinha cinco funcionários e lá fabricavam enxadas, foices, rodas de carroças, arados e tudo relacionado a ferramentas da lavoura.
As coisas já não iam tão bem e com o progresso começaram aparecer muitos carros importados e como seu forte era fazer roda de carroça, seu trabalho acabou ficando obsoleto, com isso veio para Votorantim onde encontrou seu parente Oscar Godoy (solteirão que trabalhava na light e morador do barracão no acampamento) que falou das vantagens de trabalhar para os gringos Não demorou muito e já estavam lá os Castro de mala e cuia para a vila da Light.
Sempre foi apaixonado por carros, motos e cavalos. Era conhecido em sua cidade como domador de cavalos, sempre destemido montou os mais bravos. Com o passar dos anos e os cabelos ficando mais ralo gostava de mostrar uma cicatriz na cabeça como se fosse um troféu e contava que além do tombo do valente, cortou a cabeça que se fosse hoje iria levar uns 40 pontos.
Começou a dirigir muito cedo no carro do seu tio rico que tinha uns dos três únicos carros da cidade, por sinal este tio foi ser padre por uma desilusão amorosa, mas isso é outra história que não cabe agora.
Teve muitos carros: buicks, Ford, Chevrolet, Pacard e outros que não sei as marcas; com as motos não foi diferente: Harley Davidson eu me lembro, mas quem poderá contar com mais detalhes é o Toninho meu irmão.
Temente a Deus era muito religioso e gostava de ajudar as pessoas, ninguém saia de sua casa sem um cafezinho e um dedinho de prosa. Como bom libriano gostava de conversar, sempre muito gentil. Amigo teve poucos, mas foram para a vida inteira, viveu até 87 anos e os verdadeiros estavam lá.
Era um pouco exigente, só comia as comidas preparadas pela minha mãe e um pouco exagerado, quando gostava de alguma coisa, por exemplo, durante três anos só comeu sopa de macarrão cortadinho no jantar e assim foi com o mamão que comprava caixas e caixas para degustar. Tomar uma dose de cachaça (das boas) no almoço e jantar era sagrado, não imaginam como era engraçado dançando ao som de uma sanfona e nós em volta rindo. Nunca aprendeu a tocar nenhum instrumento musical, pois todos que adquiria, vendia em seguida. Apreciador de música caipira não perdia um show de cururu junto com seu amigo Antonio Pereira que vinha de São Paulo para lhe fazer companhia.
Esses versos ele guardou na memória para sempre:
“São Paulo estado rico, mas o nosso não fica atrás,
Paraíba, Rio Grande junto com Minas Gerais,
O mineiro só faz queijo, o gaucho lida com couro,
São Paulo colhe café, o café que vale ouro,
E de todo país é a metade do tesouro!”
Vender, vender, vender, era o seu lema! (se fosse aos dias de hoje modéstia a parte seria o melhor vendedor do mundo).
Seus melhores clientes moravam na Vila da Light e seus produtos de venda eram bem diversificados: rádios, vitrolas, relógios, ternos, jóias, cobertores, sapatos, e até camisas que certa vez sem querer uniformizou o pessoal da vila vendendo mais de cem camisas todas da mesma cor azul. Era só gente chegando na venda com a roupa igual, até virou piada. Bonita camisa Fernandinho, como daquele comercial.
Excelente artesão, com pedaços de trilhos de trem fazia em sua ferraria ferramentas para desmontar aquelas enormes máquinas que vieram da Inglaterra e nas horas vagas fazia facas, canivetes, chaves de fendas, alicates, navalhas era sua especialidade.
Fez até uma armadura medieval, para o filho de um engenheiro, quem viu disse que ficou uma obra de arte.
Deixou uma porção de afilhados, por ser muito conhecido era muito solicitado que minha mãe aceitava de bom grado.
Não gostava de ler, mas era muito bem informado com seu radio de cabeceira sempre sintonizado na BBC de Londres.
A doença do Moacyr ele não acompanhou, pois já estava debilitado, mas ao chegar perto do caixão chorou como se fosse uma criança, pois sentiu que o seu primogênito tinha partido.
Um dia me chamou pelo nome (incrível porque já não me reconhecia mais) e pediu para que eu tirasse todo dinheiro da poupança já que queria comprar um carro novo para levar sua mulher conhecer o mundo todo.
Logo que ele faleceu mamãe também se foi, tenho certeza que estão realizando esta grande viagem.
Confesso que este relato me levou as lágrimas de tantas saudades. Espero que gostem!
Este foi o verdadeiro José de Castro Sobrinho, o Zé Ferreiro para os amigos.
Cada vez que soava o apito da usina ele se levantava as pressas do seu leito quente, colocava uma capa amarela, botas e capacete e saia correndo apagar o fogo no mato que alguém por pura imprudência colocava lá (apagavam fogo com uma vassoura improvisada e tinha que entrar mato a dentro).
Muitas vezes só voltava a tempo de tomar um banho e um café rápido e ia trabalhar na ferraria bater ferro o dia todo. Esta pessoa que poucos conheceram bem e faziam julgamento pelo seu jeito de ser (My Way) era um pai maravilhoso. Até o dia da sua partida estava preocupado conosco mesmo estando esclerosado.
Na nossa educação não interferia deixando a cargo de minha mãe, pois naquele tempo o homem era o provedor e a mulher cuidava da casa e dos filhos. Era uma delícia ter nossa mãe sempre ao nosso lado, ela que não devia gostar muito, pois aprontávamos de tudo, idéias malucas não nos faltavam!
Nascido em um sítio na cidade de Elias Fausto. perto de Campinas, sempre trabalhou na lavoura, daí ter se desenvolvido muito cedo, com 16 anos já tinha 1,85 de altura, homem feito.
Cansado de trabalhar para os italianos, pediu dinheiro para seu tio que era mais abastado para uma plantação de batatas que foi uma beleza, deu até para casar com a nossa mãe, pois já namoravam há algum tempo.
Com o passar dos anos resolveu montar uma oficina de ferreiro onde aprendeu a profissão. Sua empresa tinha cinco funcionários e lá fabricavam enxadas, foices, rodas de carroças, arados e tudo relacionado a ferramentas da lavoura.
As coisas já não iam tão bem e com o progresso começaram aparecer muitos carros importados e como seu forte era fazer roda de carroça, seu trabalho acabou ficando obsoleto, com isso veio para Votorantim onde encontrou seu parente Oscar Godoy (solteirão que trabalhava na light e morador do barracão no acampamento) que falou das vantagens de trabalhar para os gringos Não demorou muito e já estavam lá os Castro de mala e cuia para a vila da Light.
Sempre foi apaixonado por carros, motos e cavalos. Era conhecido em sua cidade como domador de cavalos, sempre destemido montou os mais bravos. Com o passar dos anos e os cabelos ficando mais ralo gostava de mostrar uma cicatriz na cabeça como se fosse um troféu e contava que além do tombo do valente, cortou a cabeça que se fosse hoje iria levar uns 40 pontos.
Começou a dirigir muito cedo no carro do seu tio rico que tinha uns dos três únicos carros da cidade, por sinal este tio foi ser padre por uma desilusão amorosa, mas isso é outra história que não cabe agora.
Teve muitos carros: buicks, Ford, Chevrolet, Pacard e outros que não sei as marcas; com as motos não foi diferente: Harley Davidson eu me lembro, mas quem poderá contar com mais detalhes é o Toninho meu irmão.
Temente a Deus era muito religioso e gostava de ajudar as pessoas, ninguém saia de sua casa sem um cafezinho e um dedinho de prosa. Como bom libriano gostava de conversar, sempre muito gentil. Amigo teve poucos, mas foram para a vida inteira, viveu até 87 anos e os verdadeiros estavam lá.
Era um pouco exigente, só comia as comidas preparadas pela minha mãe e um pouco exagerado, quando gostava de alguma coisa, por exemplo, durante três anos só comeu sopa de macarrão cortadinho no jantar e assim foi com o mamão que comprava caixas e caixas para degustar. Tomar uma dose de cachaça (das boas) no almoço e jantar era sagrado, não imaginam como era engraçado dançando ao som de uma sanfona e nós em volta rindo. Nunca aprendeu a tocar nenhum instrumento musical, pois todos que adquiria, vendia em seguida. Apreciador de música caipira não perdia um show de cururu junto com seu amigo Antonio Pereira que vinha de São Paulo para lhe fazer companhia.
Esses versos ele guardou na memória para sempre:
“São Paulo estado rico, mas o nosso não fica atrás,
Paraíba, Rio Grande junto com Minas Gerais,
O mineiro só faz queijo, o gaucho lida com couro,
São Paulo colhe café, o café que vale ouro,
E de todo país é a metade do tesouro!”
Vender, vender, vender, era o seu lema! (se fosse aos dias de hoje modéstia a parte seria o melhor vendedor do mundo).
Seus melhores clientes moravam na Vila da Light e seus produtos de venda eram bem diversificados: rádios, vitrolas, relógios, ternos, jóias, cobertores, sapatos, e até camisas que certa vez sem querer uniformizou o pessoal da vila vendendo mais de cem camisas todas da mesma cor azul. Era só gente chegando na venda com a roupa igual, até virou piada. Bonita camisa Fernandinho, como daquele comercial.
Excelente artesão, com pedaços de trilhos de trem fazia em sua ferraria ferramentas para desmontar aquelas enormes máquinas que vieram da Inglaterra e nas horas vagas fazia facas, canivetes, chaves de fendas, alicates, navalhas era sua especialidade.
Fez até uma armadura medieval, para o filho de um engenheiro, quem viu disse que ficou uma obra de arte.
Deixou uma porção de afilhados, por ser muito conhecido era muito solicitado que minha mãe aceitava de bom grado.
Não gostava de ler, mas era muito bem informado com seu radio de cabeceira sempre sintonizado na BBC de Londres.
A doença do Moacyr ele não acompanhou, pois já estava debilitado, mas ao chegar perto do caixão chorou como se fosse uma criança, pois sentiu que o seu primogênito tinha partido.
Um dia me chamou pelo nome (incrível porque já não me reconhecia mais) e pediu para que eu tirasse todo dinheiro da poupança já que queria comprar um carro novo para levar sua mulher conhecer o mundo todo.
Logo que ele faleceu mamãe também se foi, tenho certeza que estão realizando esta grande viagem.
Confesso que este relato me levou as lágrimas de tantas saudades. Espero que gostem!
Este foi o verdadeiro José de Castro Sobrinho, o Zé Ferreiro para os amigos.
Lindo relato!
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