Foto da escola onde estudei em Itupararanga
"TENHO MEDO"
Na vila onde nasci antes de ser uma Usina Hidrelétrica era um sítio com mata maravilhosa, lindas cachoeiras, montanhas rochosas parecendo um grande Canyon. Uma enorme variedade de pássaros e animais que, aos poucos, foram se acostumando conosco, seres humanos, que invadimos seu habitat. Há cem anos esta vila pertencia à cidade de Sorocaba e hoje, depois do desmembramento, é um bairro de Votorantim.
O enorme eucalipto que ficava logo acima do quintal de casa, era um gigante imponente com mais de30 metros de altura e seu tronco precisaria de umas três pessoas para abraçá-lo. Já fazia parte de nossas vidas, nossa horta e o pomar ficavam próximos a ele, portanto, nosso contato era diário. E sem contar que, além de enfeitar o local, o perfume que exalava de suas flores purificavam o ar.
Lá na curva da estrada que subia até o Balanço, onde ficava nossa casa, ficava uma paineira muito antiga, lugar predileto dos sabiás e que, ao entardecer, faziam dos seus galhos um palco de apresentação dos shows com toda aquela cantoria para todos que quisessem ouvir.
Algumas pessoas diziam que ela era mal assombrada e que as noites, ao passar por ela, sentiam um arrepio esquisito pelo corpo. Eu só posso afirmar que minha mãe usava os frutos dela para fazer travesseiro que, além de macios e cheirosos, nos ajudava a dormir feito uns anjinhos.
Um pouco mais adiante ficava a ingazeira e, embaixo dela, uma pedra bem grande onde a parada era obrigatória, primeiro, para tomar fôlego para continuar a subida e, depois, para degustar os ingás bem docinhos .
Vendo umas fotos recentes observei que, ao longo dos anos, houve uma grande mudança e parece que a natureza está querendo tudo de volta o que lhe foi tomado. Confesso que tenho medo de quando voltar à terra em que nasci não consiga localizar estas queridas que ajudaram a escrever um pouco da nossa história. E como me sinto uma exilada gostaria de compartilhar a poesia predileta da minha querida mamãe sobre o exílio.
Canção do Exílio
(Gonçalves Dias)
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Na vila onde nasci antes de ser uma Usina Hidrelétrica era um sítio com mata maravilhosa, lindas cachoeiras, montanhas rochosas parecendo um grande Canyon. Uma enorme variedade de pássaros e animais que, aos poucos, foram se acostumando conosco, seres humanos, que invadimos seu habitat. Há cem anos esta vila pertencia à cidade de Sorocaba e hoje, depois do desmembramento, é um bairro de Votorantim.
O enorme eucalipto que ficava logo acima do quintal de casa, era um gigante imponente com mais de30 metros de altura e seu tronco precisaria de umas três pessoas para abraçá-lo. Já fazia parte de nossas vidas, nossa horta e o pomar ficavam próximos a ele, portanto, nosso contato era diário. E sem contar que, além de enfeitar o local, o perfume que exalava de suas flores purificavam o ar.
Lá na curva da estrada que subia até o Balanço, onde ficava nossa casa, ficava uma paineira muito antiga, lugar predileto dos sabiás e que, ao entardecer, faziam dos seus galhos um palco de apresentação dos shows com toda aquela cantoria para todos que quisessem ouvir.
Algumas pessoas diziam que ela era mal assombrada e que as noites, ao passar por ela, sentiam um arrepio esquisito pelo corpo. Eu só posso afirmar que minha mãe usava os frutos dela para fazer travesseiro que, além de macios e cheirosos, nos ajudava a dormir feito uns anjinhos.
Um pouco mais adiante ficava a ingazeira e, embaixo dela, uma pedra bem grande onde a parada era obrigatória, primeiro, para tomar fôlego para continuar a subida e, depois, para degustar os ingás bem docinhos .
Vendo umas fotos recentes observei que, ao longo dos anos, houve uma grande mudança e parece que a natureza está querendo tudo de volta o que lhe foi tomado. Confesso que tenho medo de quando voltar à terra em que nasci não consiga localizar estas queridas que ajudaram a escrever um pouco da nossa história. E como me sinto uma exilada gostaria de compartilhar a poesia predileta da minha querida mamãe sobre o exílio.
Canção do Exílio
(Gonçalves Dias)
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
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