sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Minissérie Nunca desista dos seus sonhos - Capítulos 47 - 48 - 49


Da Casa de Forças os chefes das diversas unidades da companhia seguiram em bloco, atrás de Mr. Smith e Pagan, pela rampa que conduz às belas casas da chefia. Uma vez lá e devidamente instalados ao redor de uma mesa enorme, retangular, de madeira de lei escura, postada numa varanda cercada por tela, era perceptível nas faces de Saydel, Salvestrini, Laércio Veiga, José de Castro e todos os demais líderes, expressões de ansiedade e satisfação. Mr. Smith estendeu mapas e diversas plantas de engenharia, esplendorosamente bem feitas pelos antigos engenheiros, sobre o tampo da mesa e não tardou para que um enorme bule de café passado na hora fosse trazido da cozinha com duas dúzias de xícaras: um dos homens da manutenção pensara nesse pequeno e importante detalhe! Xícaras foram imediatamente servidas, cigarros e cachimbos acesos e a reunião teve início. Mr. Smith, de imediato, quis saber de seu grupo de assessores se valia a pena uma restauração total das edificações existentes na Vila ou se era mais prático derrubarem tudo e começar dos alicerces. Alguns homens se manifestaram defendendo suas posições, outros, contra-argumentaram. Mr. Smith na cabeceira da mesa ponderava em silêncio a maior parte do tempo. De vez em quando perguntava algo, dava um ponto de vista, até que a certa altura resolveu: "Dinheiro não será problema! Não teremos falta de material de primeira qualidade para tudo o que precisarmos. Teremos também uma infraestrutura de transportes com caminhões entregando todo o material e ferramentas necessários. E tendo ouvido as ponderações dos senhores entendo que é chegado o momento de uma decisão. E ela é a seguinte: Nós, literalmente, passaremos a vila 'a limpo'! Derrubaremos as poucas paredes que ainda estão de pé e reconstruiremos tudo do zero! Vocês estão comigo nisto? Conseguirão motivar seus homens para termos tudo novinho em folha no prazo de um mês?". Após alguns segundos de silencio quando alguns olhares foram trocados por aqueles homens fortes, corajosos, experientes, alguém se levantou e respondeu pelo grupo: "Sim, Mr. Smith! Nossa gente já sofreu demais de saudade e já esperou demais por isto! Nós faremos tudo em um mês, sob a sua liderança se o senhor nos garantir os recursos... Trabalharemos noite e dia, mas, conseguiremos!". Havia lágrimas nos olhares da maioria daqueles homens quando mãos foram apertadas e eles começaram a se dirigir para fora daquela linda casa tranformada em central de operações e a caminhar em direção aos seus liderados que os aguardavam no campo...





E assim o milagre se fez! Felizes por participarem do milagre da reconstrução, homens das mais diferentes profissões, agrupados sob a liderança de seus antigos chefes e organizados em turnos, para que pudessem ter um período de descanso, passaram a trabalhar dia e noite em Itupararanga. Conforme prometera, Mr. Smith supria toda a infraestrutura para que o Vale Encantado, assim como fora na época da construção da Usina, 100 anos atrás, se transformasse num gigantesco canteiro de obras. Daí era, a todo instante, um entra e sai de caminhões trazendo pedras, tijolos, cimento, cal, canos, madeira, fios, portas, janelas, tintas, ferramentas, parafusos, pregos e levando embora do vale, raízes, tocos, capim, entulho e tudo aquilo que não serviria para que tudo ficasse idêntico ao projeto original imaginado pela empresa canadense São Paulo Electric Company Ltd. Antes mesmo dos caminhões, as plainadoras foram as primeiras a passar pelo portão e adentrarem na área refazendo, com suas imensas pás, as ruas da vila que estavam tomadas pelo mato e praticamente intransitáveis. Isso foi fundamental para que, na sequência, os referidos caminhões pudessem chegar em todos os cantos da vila nesse leva e trás de coisas. Para alimentar aquele batalhão de trabalhadores, foram levantadas duas imensas tendas-refeitórios. Uma ficava entre o Escritório e a Usina, outra, sobre o aterro, que fora recuperado e reconstruído pelas plainadoras e caminhões basculantes carregados com terra vermelha que não paravam de chegar. Portanto, havia muito espaço naquela nova “estrada” que começava logo após a Curva do Vento e seguia – sempre colada ao morro e nunca atravessando o rio, em direção à vila e chegava à altura do lago que todos conheciam como Largão. As tendas-refeitório eram imensas, com mesas enormes, iluminação adequada, equipadas com depósito para alimentos, freezers e fogões industriais. Para trabalhar nas tendas-refeitório foram trazidas todas as mulheres que trabalharam nas Pensões em diferentes gerações. As tendas ficavam abertas 24 horas por dia e foi o próprio Mr. Smith quem se responsabilizou pela escala de alimentação das turmas de trabalhadores para que tudo funcionasse como um relógio e seu “exército” de profissionais estivesse sempre bem alimentado e os homens dispostos ao trabalho. Com o prolongamento do aterro, muitas barracas foram erguidas e reagrupadas por ali também. Era lindo de se ver! Num sobrevôo sobre a Vila da Usina de Itupararanga nesses dias seria possível ver grupos de homens em seus uniformes em plena atividade ou se deslocando de um lado a outro, rumo aos refeitórios, voltando deles, indo descansar, ou seguindo para o seu turno de trabalho. Banheiros químicos foram providenciados em todos os lugares. Havia também uma área de chuveiros junto às tendas, mas, muitos preferiam, no melhor estilo “Aureliano Pedroso”, ir com sabonete e toalha até a Cachoeirinha e se banharem em suas águas abençoadas. Rolos de fumaça subindo aos céus, denunciavam intensa atividade humana na área. Felizmente era fumaça produzida pelo esforço de reconstrução e não do abate de árvores ou queimada das mesmas e da vegetação em redor. Durante a noite, unidades geradoras de energia sobre carrocerias de caminhões alimentavam holofotes imensos que faziam a noite parecer dia. E assim os dias foram passando e, uma a uma, as casas ressurgindo. Havia gente, recursos e disposição suficiente e todas as casas foram surgindo, de seus alicerces, tijolo após tijolo, ao mesmo tempo... Era algo lindo, emocionante. Parece que os homens competiam para ver quem conseguia terminar a casa antes. Mas, era uma competição que virou motivo de riso porque estava sempre empatada. E foi assim que em 29 dias, 19horas, 04 minutos e 55 segundos a última demão de tinta foi dada no último edifício a ser restaurado naquele vale que rescendia de novo, que renascera das cinzas...no prédio da Sede!


...Continua

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