domingo, 11 de julho de 2010
MIL E UMA UTILIDADES
Mil e uma utilidades
Acharam que eu ia falar do Bombril, puro engano! Hoje eu quero contar tudo sobre o saco... Isso mesmo aquele que vem com açúcar e farinha de trigo, esse artigo de luxo era o que fazia maior sucesso lá em casa.
Por sermos uma família numerosa minha mãe já comprava tudo de saco: 60 kilos de açúcar, 50 kilos de arroz, farinha e assim por diante, depois ela lavava o dito cujo com alvejante que por sinal ficava bem branquinho.
Nossos lençóis, toalhas de mesa, de rosto e banho todas eram feitas desse material, dois sacos era igual uma toalha de mesa que ela nos ensinava o bordado e depois a Nair fazia o crochê, toalha de banho era um saco de açúcar cristal, pois seu tecido era mais grosso, nós desfiávamos os dois lados e fazíamos um tipo de macramê.
Para os lençóis de solteiro utilizavam dois e ½ sacos e os de casal quatro, nas roupas dos meninos os sacos mais grossos faziam as calças com suspensórios que minha mãe tingia com tinta guarani (aquela que ficava um tempão cozinhando as roupas), para não ficar tudo igual, uma era azul e a outra verde ou marrom. As camisas ela deixava branca e era de saco farinha (mais macio). Mais branco era modo de falar, com aquela terra vermelha ficava encardida!
Encurtando a história: nossos pijamas, camisolas, aventais, panos de pratos, sacolinhas para levar os cadernos na escola e até pano de chão era tudo do mesmo saco. Agora sei por que nunca gostei de roupas de marca e os meus filhos também não ligam, será porque acostumamos com roupas exclusivas?
Nossa mãe não tinha idéia que fazendo tudo isso conosco, além de desenvolver o nosso lado artístico proporcionava o entrosamento entre os irmãos, enquanto fazíamos os bordados ela ia contando as histórias da sua vida (que, aliás, eram muito lindas) e com isso o tempo passava rápido e confesso que me lembro delas até hoje.
Quem deixava as roupas de casas branquinhas era a Dona Zoraide, lavadeira oficial da Light, além da nossa mãe ela tinha várias freguesas no acampamento.
Uma vez fui visitá-la e fiquei impressionada de ver como ela lavava as roupas, era num córrego com uma tábua atravessada de lado a lado e ela ficava ajoelhada na beira. Fico imaginando quantas peças devem ter escapado de suas mãos e ido por água abaixo.
Nós gostávamos muito dessa senhora, era mais que uma lavadeira era uma amiga. Todas as segundas ela mandava um dos seus filhos buscarem a trouxa de roupa suja, mas nas sextas ela fazia questão de fazer uma caminhada até o balanço para entregar as roupas limpas e sentar para um bate papo com mamãe tomando um cafezinho feito na hora enquanto isso nós brincávamos com os filhos dela.
O único pedido de mamãe era que ela usasse Anil, para as roupas ficarem bem branquinhas, quer dizer, azuladas, na verdade essa era a maneira que mamãe achou para ajudá-la, pois sua vida era muito dura, seu marido era paraplégico e as filhas Nazira e Zenaide (que foi babá do Billy) ajudavam nas despesas trabalhando como domésticas, os meninos Abimares e Abimael faziam limpeza nos jardins dos moradores da vila e Adelaide e Irineu eram crianças.
Mas voltando a sacaria, na linguagem de hoje tudo isso se chama customizar, já imaginaram nós desfilando no São Paulo Fashion Week e com nossos produtos vendidos na Daslu?
Esta crônica é dedicada especialmente à querida Simone Adami.
Beijos
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSacos de farinha sendo customizados? A Mare e eu conhecemos uma produtora de moda que adoraria a ideia, dona Natalina!!! rsrs
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